terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Foi corajoso até a morte.
Então, morreu de medo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Erótica

Ora, ora, Eros, era só uma questão de ótica!

sábado, 12 de junho de 2010

Pênis pênsil

O que faço?
Convido-te pra atravessar a ponte
Que sai de mim?
Convido-te pra pescar?
Tu levas a linha. Eu a ...
Proponho-te jogarmo-nos em queda livre.
Tu abre as pernas, eu flecho.
Estendo-te o passadiço.
Tu cais – de boca.
Passa por baixo teu transatlântico
Concavoconvexo.
Minha alma, ao convés, viaja.
Te seguras firme em mim.
Uma travessia longa entre duas almas.
Ofereço-me como plataforma, cadafalso, praticável.
Viajo para o interior
Da tua boca.
Me escondo, me engoles.
Quero sumir em tua garganta.
Ultrapassar a glote.
Quero te ver aqui, em mim, a sorver-me. Sorvete.
A rodar embriagada de mim
A (o)usar-me.
Quero teu “beijo” veemente.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

EROS UMA VEZ


Entro súbito. Te encontro de bruços. Olha-me por dentro. Ou melhor, por fora. Ou melhor, por baixo. Da roupa. Os lábios flutuam, correm pela sala e abocanham. E eu fico ali, submerso. Enfiado. Dentro.
Puxa com cuidado a meia rendada. Abotoa sem pressa o espartilho. Reforça o ruge e o batom. Sobe no sapato de longos saltos. Coloca um jazz lento e serve-se de gim. A fumaça do incenso abruma a sala. Por fim, vai até a penteadeira, abre um estojo e dele tira uma gargantilha negra com um pingente brilhante. Agora sim ele pode estar. No início roçando leve seu corpo, sutilmente insinuada. As ligas se estendendo às meias como as suas mãos resolutas. Os corpos se abraçam no início suavemente. Vai-se produzindo um calor interior intenso. A boca arfa e o púbis dança como a força das marés. Uma concha côncava-convexa a receber vida. Quadris fartos, coxas polpudas. Ele gira, puxa-a leve e firme por trás e lhe oferece um prazer súbito. Irradiado, estupendo, nutrido. Oferece-se, entrega-se ao pulsar. Não resiste nada. Geme, goza, vibra, preenche-se de sêmen. Então mansamente debruça-se sobre o seu torso, agora menos ofegante. Sente-se liquefeita, sem nenhum contorno. Deixa-se escorrer.
frag mentolados
Não, não é alfazema. Gardênia tem cheiro? Tira da gaveta o espelho. Procura-se. Está ansiosa, pois essa é a hora em que os detalhes são fundamentais. O broche arremata o colo nu. A textura delicada da pele lhe empresta uma nobreza absoluta. Sabe-se linda. Mas verifica. Escrutina-se com minúcia. Encontra no reflexo o esboço de um leve riso. Sente um pequeno prazer ao perceber a sua presença de espírito. O vestido claro com um decote que, mais além de realçar os seios, revela o extraordinário colo. Como se emergisse do corpo majestosa cúspide erguida sobre um pedestal de ouro. O tecido alvo leve deriva de si feito bruma. Seu olhar penetra-se intangível. Suas pupilas, dois imensos e inebriantes abismos. De súbito, pela janela entra uma mariposa dançando alegre harmonia. Distrai-se. A cena é a de um quadro renascentista em luz e sombra. Isso a descola de qualquer mundanidade. Está nessa suspensão litúrgica ou lisérgica quando chega a escolta. Sem deixar de atentar ao encanto do inseto dançarino, ergue-se lentamente e segue pelos corredores na direção dos aposentos do sultão.